ENTREVISTAS

Entrevista com Adriano Stevenson publicada na Skrutt Magazine (Suécia) em Fevereiro de 2018

Adriano da Rotten Flies tem um selo (Microfonia) e toca guitarra na Rotten Flies. Aqui ele conversou um pouco comigo sobre o punk group brasileiro Rotten Flies.


1. Conte um pouco da história da banda?

Bem, Rotten Flies começou em 1990, mas eu ainda não era da banda. Antes de me juntar à banda em 1994, passaram outros guitarristas. Em 2013, foi a vez de mudar o vocal e começar uma nova era de composições e mais shows. Nós tocamos em lugares que nunca tínhamos tocado antes, viajamos para várias cidades do país, participamos de um festival altamente considerado em São Paulo, chamado Punk na Páscoa,e tocamos em outro Festival com GBH e Ratos de Porão.


2. Fale um pouco sobre cada membro, idade, família, trabalho, interesses e algo ruim em relação a todos? Bandas anteriores? Outras bandas?

Beto (baterista) e Cecilio (baixo) começaram a banda juntos porque eles viveram no mesmo bairro durante anos. Beto trabalha em uma loja de música chamada Música Urbana (Música Urbana), Cecilio é engenheiro, Francisquinho (vocal) é técnico em radiologia e eu sou editor de um jornal zine independente que criei desde 2010, produtor de um programa de rádio e shows .


3. Eu posso ouvir influências muito diferentes, mas principalmente hardcore 82, etc? Favoritos do passado?

Bem, tem muitas! GBH, Varukers, Exploited, Sick of it All, Sick on the Bus, Ratos de Porão, Cólera, Olho Seco, Camisa de Vênus,


4 Rotten Flies você está satisfeito com o nome? Como surgiu? Você não temia que alguma outra banda fosse chamada assim ?, Por que um nome em inglês quando vocês canta em portugese? Qual é o melhor nome de banda que você conhece?

Cara, como eu disse, não estava lá quando a banda começou, então ... mas houve uma "onda" aqui de colocar nomes em inglês nas bandas e cantar em inglês também, mas não seguimos essa "onda", preferimos cantar em portugues porque as letras são muito mais próximas de nossa realidade. Parece-me que no momento era o melhor nome que surgiu.


5. Qual é a melhor coisa de tocar ao vivo?

O público porque nunca sabemos como vai ser! E a vibração para tocar ao vivo não é comparável a qualquer outra coisa. E é sempre uma surpresa, às vezes bom, às vezes não tão bom ...


6. E onde é melhor de tocar? E o pior lugar?

Eu acho que o melhor foi no Hangar 110 e um pequeno bar no subúrbio em Brasília, dois lugares completamente diferentes, mas a energia foi incrível!


7. Como é tocar este tipo de música no Brasil agora? Com quais bandas vocês tocaram?

O Brasil está passando por um momento político, social e econômico incerto e muito complicado. Nunca passamos por isso antes, e não temos idéia do que pode acontecer. E nada melhor do que o punk / hardcore para expurgar, mas, infelizmente, não é a música das massas, há muitas bandas boas que fazem esse tipo de som, mas no underground. Tocamos com com Ratos de Porão, Cólera, Devotos, Mollotov Attack, N.T.E (uma boa banda de punk de Natal), GBH, Flicts, Ódiosocial, Karne Krua.


8. Como descreveria sua música em três palavras?
Irritado com o sistema (Angry with system)


9. O que o punk significa para você, é apenas uma palavra ou é um estilo de vida?

Punk é atitude. Conheço pessoas sem o visual punk que tem mais atitude do que as que usam um visual. Punk é subverter o estabelecido, na minha opinião. É minha vida!


10. Como você vê o download, mp3 e essas coisas?
A Internet forneceu isso e, no início, era uma idéia com elementos anarquista e muito punk, infelizmente, hoje temos censura na rede e não é tão emocionante quanto no início, mas ainda é válida porque a música atinge esferas que nunca imaginamos antes!


11.Como é viver no Brasil agora? Politicamente? Fascistas?

Não é fácil. Como eu disse, nunca vivemos assim antes. Muitos desempregados, fome e crime cresceram em nível assustador. Este ano haverá eleições e não vejo ninguém para parar tudo o que está acontecendo agora. Muito complicado e incerto, as pessoas estão apáticas, sem ação. Eu realmente não sei o que pode acontecer ...


12. Há alguma boa banda no Brasil agora? O punkscene / hardcorescene é grande? Como é na sua cidade?

No Brasil, existem muitas bandas de punk / hardcore, mas não estão no mainstream. A música das massas hoje é algo difícil para meus ouvidos e esse é o tipo de música que toca na maioria das estações de rádios.



13. O que você sabe sobre a Suécia?

A Suécia tem uma ótima cena!


14. Você ouviu boas bandas da Suécia?

Oh sim! Anti Cimex, Fear of God, Abba, The Hellacopters, Wolfbrigade ...


15. Nas suas letras, quais as influencias? É mais fácil fazer letras agora ou foi mais fácil fazê-lo quando era mais jovem? Nunca em inglês?

As influências da letra vêm da minha aldeia, da minha rua, da minha vizinhança. Eu falo sobre o que acontece aqui para jogar no mundo as questões locais que em algum ponto diferem da Suécia ou de outro canto do mundo. Eu acho que quando eu era mais novo escrevia tudo sem pensar demais, acho que penso mais hoje, então é mais difícil escrever agora. Nunca fizemos letras em inglês, irônicamente, pois o nome da banda é em inglês.


16. Existe algum assunto sobre o qual você nunca escreverá nada?

Futilidades parece ser boa nas outras bandas. As moscas podres não têm tempo para besteiras.


17.Politica e música andam de mãos dadas? Qual é a sua música mais política?

Indignação é um ótimo combustível para a nossa música! Então, temos muitos motivos para ser indignados com a política em nosso país e no mundo, é claro. No contexto geral, as letras têm uma abordagem política, então não posso dizer qual é a mais política.


18. Melhor banda / artista político?

É difícil dizer porque eu gosto das bandas que quebram paradigmas estabelecidos pela sociedade. Punk é para isso.


19. Você acha que a música (letras e som) pode mudar a vida de qualquer pessoa, quero dizer, pessoas que escutam música?

Ah, sim, completamente! A música é atitude! Tanto do autor como do ouvinte.


20. A sua cobertura no seu CD parece muito legal, é importante ter uma capa que mostre as pessoas que tipo de música você joga? Seu recorde favorito? Quem faz suas capas? E você tem boas gravadoras em sua cidade?

Nós sempre pensamos sobre todo o conjunto, boas músicas e uma boa capa. Hoje trabalhamos com um artista de design de Natal (RN) Maxwell Sousa. Ele entende muito sobre o conceito que estamos procurando. Respondendo à pergunta sobre gravadoras, temos 3 selos em nossa cidade que trabalham com muitos estilos de rock.


21. E você tem um selo, conte-nos sobre isso?

Sim, provavelmente você conhece essa história que você envia sua música para muitos selos e ninguém se importa? Foi assim! Então eu criei o meu selo para liberar minhas músicas e apoiar algumas bandas de amigos e é por isso que hoje temos muitas pessoas não só da minha cidade, como o Mollotov Attack, por exemplo. Temos 16 lançamentos e não estamos interessados em parar.


22. É importante ter os registros físicos? Por que ou por que não? Vinil, CD, cassete, o que você prefere?

Eu sou um colecionador, eu realmente gosto de coisas, mas também gosto de música, e para mim não importa como vem, LP, CD, Cassette, streaming, o que é importante é a música.


23. Conte alguma coisa engraçada que aconteceu durante sua carreira ou em algum show?

Existem muitos, desde os shows que foram cancelados quando chegamos no lugar até a dor de barriga no palco, o carro quebrar no meio do nada ... enfim, nós rimos dos causos.


24. Como é o seu público? Que pessoas você sente falta nos shows? Qual foi a maior banda com a qual você já tocou?

Isso muda de show para show. Nosso público é uma mistura de jovens de 40 anos e de 18 a 20 anos de idade. Sempre há alguém novo nos shows. Acho que a maior banda foi GBH.


25. Diga quais são os seus cinco discos favoritos, cinco shows e cinco coisas mais importantes na vida?

Cinco discos favoritos:

1. GBH -City Baby Attacked by Rats

2. Camisa de Vênus - Viva

3. Ratos de Porão - Crucificados pelo Sistema

4. Cólera - Tente Mudar o Amanhã

5. Teveert Kadet - O Cavalo

Cinco shows favoritos:

1. GBH

2. Ratos de Porão

3. Cólera

4. Invasores de Cérebros

5. Camisa de Vênus

Cinco coisas mais importantes na vida:

1. Filha e filho

2. Firebird Epiphone

3. Marshall amp

4. Viagens

5. Boas cervejas


26. Primeiro, último e mais caro LP já comprado?

Teveert Kadet - O Cavalo


27. Você se interessa por futebol? O que você acha do campeonato mundial deste verão?

Sou brasileiro, mas não tenho interesse em futebol, eu deveria ter nascido na Suécia.


28. É chato conceder entrevistas? São muitas entrevistas?

Gostaria de dar mais entrevistas, é sempre bom expor idéias. Obrigado pela oportunidade.


29. Se você pudesse escolher cinco bandas do passado e de hoje em dia, bandas extintas e na ativa, quais você escolheria para tocar com a sua banda? 

As únicas que consigo pensar agora são Motorhead e Anti Cimex, seria sensacional!


30. A música é uma boa maneira de externar frustração e se tornar uma pessoa mais agradável fora da música?

Sim, às vezes esse tipo de terapia funciona. Às vezes é difícil falar sobre coisas que aconteceram em toda a vida, quero dizer, é a repetição das mesmas situações com diferentes pessoas. É uma espécie de roda gigante, mas nunca é chato.


31. Qual a pergunta mais estranha em uma entrevista?

Não lembro de nada agora


32. Qual é a pergunta que você quer fazer, mas você nunca perguntam. Por favor, pergunte e responda?

Por que você escolheu o punk/hardcore? Porque não há nada melhor!


33. Planos para a banda?

Lançar um documentário em DVD com um pouco de nossa história, um split com duas bandas da Alemanha, cassete com uma banda americana e alguns shows, é claro, sempre são bem-vindos!


34. Para você?

Comprar outra guitarra elétrica e um violão acústico!


35. Palavra-chave?

Relaxar


34. Algo a acrescentar?


A vida nunca será completa até você perder seu ritmo.





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Entrevista com Adriano Stevenson publicada no blog Escarro Napalm de Adelvan Kenobi em 15 de abril de 2015


Adriano Stevenson é gente que faz! Guitarrista e compositor de punk rocks desde meados da década de 80 do século passado – sim, somos pessoas do século passado – segue firme com a Rotten Flies, da Paraíba, compondo e tocando e viajando e “fanzinando”. E irradiando som e fúria pelas ondas do rádio. Às quintas feiras, a partir das 20:00, via Tabajara FM, de João Pessoa. Ou em sua caixa postal, via correios, através do jornal “Microfonia”. Ou num palco precário de algum clube imundo, nas quebradas do “underground”. Ou não – às vezes rolam umas produções “decentes” ...




"Saco de Gilete", o mais recente lançamento da Rotten Flies, parece ter funcionado - a julgar pelo conteúdo de algumas letras e pelas entrevistas e declarações que li sobre o disco - como uma espécie de "volta por cima" da banda depois de uma fase conturbada. Fale um pouco sobre isso, a nova formação e a gestação do álbum.

Sabe aquela máxima: "Passaria por tudo novamente". Nem fudendo passaria por tudo novamente! Foi a gestação mais complicada, até porque o nome não era Saco de Gilete, era outra concepção, outra visão, e na real, todo mundo da banda já tava de saco cheio. Eis que, num mar revolto, aparece o cara que entra no barco pra somar. Falo de Francisquinho, vocal que veio com idéias e atitudes. Deu no que deu!  Francisquinho é o cara que tem a frase certa na hora certa, foi a tampa e a panela, o cocô e a privada.


Satisfeitos com o resultado final, em termos técnicos e artísticos? E a repercussão, como tem sido? 

Quando estávamos terminando a mix e master, comentamos: “Caralho, isso ta foda!” Não posso esquecer o nome de Marcelinho Macêdo, produtor local que entendeu a parada e fez acontecer. Saquei que o negócio pegou , quando fui pro Ugra Fest em São Paulo e lá passei alguns CDs pro pessoal do Ódio Social, então os caras ficaram nossos amigos desde criancinha. Recentemente, em São Paulo e Curitiba, tivemos uma repercussão muito boa! Mas a pergunta inicial era "Satisfeitos com o resultado final?" Sim, totalmente.


Estou acompanhando e vejo que vocês têm feito shows para além das fronteiras paraibanas, inclusive no sudeste do país. Está mais fácil fazer isso? Com base em sua experiência ao longo dos anos, consegue fazer um paralelo entre as dificuldades de uma banda "underground" para viajar ontem e hoje? A internet facilita? Até que ponto? Porque se por um lado agiliza os contatos, por outro deixa tudo ainda mais disperso e confuso, fora de foco...

Está mais fácil sim, a internet ajuda, não preciso mais colocar cola na superfície do selo (os caras que manuseavam cartas entenderão), a resposta é instantânea. Quanto às dificuldades, são mais de logística do que financeira, se tiver um integrante na banda que não quer, não pode ou que não está nem ai (o que chamamos aqui em Jampa de “empatafoda”) não vai virar. Isso independe de período, tanto ontem como hoje, o que tem que haver é vontade, o resto é correr atrás. Nesse rolê que demos no sudeste do país, por sorte, tudo foi amarrado e os caras que nos recepcionaram deram 110% de atenção, não houve roubada. A gente sabe que isso pode acontecer, mas a diferença é que hoje a roubada é compartilhada nas redes sociais, o nome do cidadão vira poleiro de galinheiro.




Já têm planos para o futuro? Já têm músicas novas compostas? Planejam lançá-las de que forma? O que pensam do dilema pelo qual passam muitas bandas hoje em dia, sobre lançar seu trabalho em CD, vinil ou apenas de forma "virtual", na internet? E como lidam com as novas estratégias para a divulgação de sua musica neste "admirável mundo novo" de comunicação instantânea e digital em que vivemos?

Não dou crédito para bandas que lançam virtualmente, hoje tá mais fácil lançar o material físico. Foda era nos anos 90 lançar um LP ou EP (vide Cambio Negro/Karne Krua/Discarga Violenta)! O negócio era trabalho de estivador, agora tá bem mais fácil. Atualmente usamos a mídia digital (principalmente para divulgação e comunicação), mas continuamos a enviar material físico. A Rotten Flies grava esse ano um LP, na realidade começou com a idéia de um EP, mas apareceu mais músicas e mais selos pra segurar a parada, vamos cair pra dentro.


Aproveitando o gancho: tem vendido bem, o disco? E os outros lançamentos do selo Microfonia, têm se pagado?

O Saco de Gilete tá sendo bem distribuído, tem quem pense que a gente é uma banda nova (acho isso ótimo). Os outros lançamentos, alguns sim, eles se pagam, outros não, mas quero deixar claro que a coisa funciona se a banda estiver tocando. Banda tem que gravar, lançar e pegar a estrada, aí a coisa gira.


Conte-nos um pouco sobre a história da Rotten Flies: quantos anos, quantas fases, quantos "perrengues", quantos prazeres. Fale-nos sobre "a dor e a delícia" (ui, Caetano!) de ser o que é - uma banda de Hard Core UNDERGROUND em atividade no nordeste do Brasil...

Vamos lá ... Rotten Flies - completa esse ano 25 anos de atividades, muitos perrengues e bota perrengues nisso, prazeres, vixe... um bocado, se não tivesse essa parte , eu parava. Dia desses estava ai em “Buracaju” assistindo a Karne Krua, pensei comigo: Ah, o Silvio tá ali com 59 anos (NOTA DO BLOG: Ô EXAGERO, ele tá com 51. Olha aí, “sub”, ta querendo te dar mais anos do que já tem) e pula que nem uma criança. Se ele pode, eu posso também! Na frente de Silvio “Suburbano” (NOTA DO BLOG: este era o pseudônimo que Silvio usava nos primórdios da Karne Krua) eu sou um bebê (risos). Tenho só 43. Mas falando sério (ui, Roberto!) (NOTA DO BLOG: ui, gostei.) o combustível da banda é um pouco daqueles pirralhos de 16 anos que ainda permanecem putos e desconfiados de tudo.




Além da banda você tem outros projetos em plena atividade, notadamente um programa de rádio, o "Jardim Elétrico", e o jornal/selo "Microfonia",  ambos tocados em parceria com Olga Costa. Como se deu esse encontro de vocês dois? E como tem se desenvolvido, está dentro do que vocês planejaram? Ou não planejaram nada, apenas "aconteceu"?

Olga é jornalista e figura conhecida aqui em Jampa. Ela tinha uma loja de CDs chamada Paralelos Records, na qual eu não ia, pois o atendimento dela era péssimo, tão ruim que a loja fechou! (risos). Anos depois, a encontrei na Música Urbana, loja do nosso parceiro Robério Rodrigues, equivalente à Freedom de Aracaju. Conversávamos muito sobre zines, da falta que o mesmo fazia devido à migração de muitos zineiros para o mundo digital e como a gente tem em comum a vontade de nadar contra a corrente, surgiu o  Microfonia (periódico bimestral), que foi planejado, sim. O restante veio acontecendo sem muito planejamento. Nos anos 90 eu tive um selo chamado Cactus Discos. Em 1995 parei com essa atividade. Quando criamos o jornal/zine, resolvemos incorporar o selo ao jornal. O programa Jardim Elétrico já era pilotado por Everaldo Pontes e Olga desde 84.


Especificamente sobre o programa de rádio, ainda vale a pena fazer, em tempos de internet? Não seria o radio uma "midia morta"? Creio que não, mas gostaria de saber sua opinião...

Eu não tenho a dimensão exata do quanto a gente é ouvido em rádio. Eu caí nessa meio que de pára-quedas. Fui fazer uma participação, (nesse dia Everaldo faltou ao programa), gostaram do resultado e acabei ficando. O próprio Everaldo disse pra mim: Vai lá e se diverte. Eu respondi: Mermão, eu não tenho know-how pra coisa. Ele respondeu na bucha: "Tem sim!". Teve um dia que rolou o maior cacete entre eu e Olga no programa, foi ai que eu saquei que essa mídia funciona, a audiência subiu igual foguete. Não que eu me importe com audiência.




Antes da Rotten Flies você fez parte da formação de pelo menos duas outras bandas importantes para o cenário punk/hard core do nordeste, mais especificamente do Rio Grande do Norte - aliás, você é de lá ou é paraibano? - a Discarga Violenta e a Devastação. Fale um pouco de sua passagem por estes dois grupos.

Sou potiguar, “papa-jerimum”, como dizia minha mãe! Eu sempre fui o guitarrista reserva (só tem tu, vai tu mesmo), na Devastação foi assim, na Rotten Flies também. No Discarga Violenta foi diferente, a gente começou junto. Jean, vocalista da Devastação, me convidou para substituir Rômulo, que chegou a tocar no Festcore (Festival Punk de Aracaju). (NOTA DO BLOG: primeiro festival exclusivamente dedicado ao punk e ao Hard Core da cidade, que aconteceu na metade da década de 1980, produzido pelo pessoal da Karne Krua com bandas de várias partes do país, incluindo a Delinquentes, de Belém do Pará – que é longe pra cacete! Ok, Natal também não é ali na esquina ...). Ainda peguei o III Encontro Anti-Nuclear, produzido por Nino (Cambio Negro). Ele ainda tem o vídeo da Devastação comigo na guitarra, preciso pegá-lo. Devastação foi um puta aprendizado! Hoje o trabalho que faço com a Rotten Flies é muito calcado nessa época. Vendo em retrospecto, entendo a escolha de Jean em ser professor, naquela época o cara já chegava no point com zines, fitas e outras publicações para a alegria da punkarada. O cara já tinha na veia o didatismo. No Discarga Violenta, eram três pirralhos que queriam fazer muito barulho... conseguimos, fizemos muito barulho em todos os sentidos.


Por fim, nos fale sobre os primórdios: como começou seu interesse pela cultura punk underground e seus derivados? O que te levou por este caminho? Imagino que tinha, por aí, as mesmas dificuldades que nós, por aqui, em termos, principalmente, de informação, naqueles tempos "analógicos" em que tudo tinha que ser resolvido por telefone ou por carta...

Estamos falando de 1985, quando o rock nacional estava a toda. Correndo por fora, a New Face, Wob Bop, Baratos Afins, o subterrâneo sempre me chamou a atenção. No ano seguinte o RDP lançou Descanse em Paz, consigo uns Coléras, e outras coisas, conheci uns malucos no colégio que gostavam de punk/HC, não deu outra, vida entortada. Me apresentaram Sopa D'osso(NOTA DO BLOG: ativista punk e anarquista, uma figura importante – e lendária – do cenário local), que depois de vinte anos entrevistei pro Jornal Microfonia. Correspondências, muitas correspondências com o Brasil todo. Cartas, zines, fitas, LPs, a era de ouro. O que mudou? Só a perspectiva.


Uma última pergunta: "Stevenson" é pseudônimo ou sobrenome?

Mainha adora Robert Louis Stevenson, portanto me deu o nome em homenagem ao escritor de Dr. Jekyll e Mr. Hyde. Meus filhos também levam o Stevenson. Eu particularmente sou um pouco médico e monstro, quando sou bom, sou bom, quando sou ruim, sou ótimo.
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ENTREVISTA COM CECÍLIO (BAIXISTA) DA ROTTEN FLIES A RESPEITO DA PARTICIPAÇÃO DA BANDA NO TRIBUTO "ESPELHO DOS DEUSES" LANÇADO PELO SELO MICROFONIA EM 2016. ORIGINALMENTE PUBLICADA NO ZINE RECIFEZES.



Nome da banda / local / Características da banda.

Rotten Flies, João Pessoa.  Gostamos de conversar e não fazemos parte de nenhuma seita, nem sindicato.






1-Pra vocês, qual o Legado ou Influências deixado por este LP (O Espelho dos Deuses – Câmbio Negro HC)?

Cecílio - Legado é que foi um dos primeiros lançamentos, senão o primeiro em vinil, de uma banda HC do nordeste, então impulsionou uma cambada a gravar também.


 2-O que significou o “LP” Espelho dos Deuses para a sua banda e para você na sua formação musical?

Cecílio - Na minha formação musical não significou porra nenhuma porque não consegui ser musico ainda, e por incompetência não vou fazer aquelas viagens de baixo que tem lá no disco original do CNHC. Agora, me influenciou muito, junto com outras bandas aqui do nordeste (Disunidos, Restos Mortais e Devotos do Ódio) no sentido de querer tocar em uma banda também. Esse disco é do final dos anos 80 e a Rotten Flies não existia ainda, então quando ouvi e vi que existia bandas desse nível aqui perto e não só lá em SP, falei: da pra fazer também. Em relação a Rotten Flies influenciou até no local em que gravamos a primeira demo tape (Cultura do Ódio) que também foi gravada e mixada no estúdio DB3 em PE, o mesmo da gravação do Espelho dos Deuses do Cambio Negro.






3-Como é participar desta empreitada (Reflexo do Espelho), mais de vinte anos depois do lançamento do LP?

Cecílio - Uma honra! Homenagem justa. A Banda de HC que ficou de fora dessa se lascou. Ficou sem essa no currículo.

4-Como rolou a convocação para participar do Reflexo do Espelho e que sentimento gerou.

Cecílio - Não rolou convocação.  Adriano é do Microfonia e a Rotten Flies já estava dentro do projeto, ele só chegou e perguntou se a gente tinha grana pra rachar o estúdio.






5-Que música vocês estão gravando? E nela que características de vocês estão sendo somadas na música da CNHC?

Cecílio - Psicopatas de Deus. Só aceleramos.

6- Como estão acontecendo os ensaios e a gravação?

Cecílio - Ensaiamos umas três vezes antes de entrar em estúdio para gravarmos, basicamente só deixamos a música mais rápida, na velocidade da Rotten Flies.






7- Qual a expectativa no momento.

Cecílio - Conversar muito na mesa da verdade.

8-Espaço aberto para comentários.


Cecílio - Comentários extras só na mesa da verdade, que na verdade, agora é o carro da verdade, por causa da fera que mora na cozinha de Adriano. Um monstro que ataca até o dono.




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Entrevista com Adriano Stevenson para o Aviso Final zine # 33 maio/junho de 2015 - por Renato Donizete






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O Rotten Flies surgiu no mesmo ano que o Aviso Final zine, ou seja, 1990. É uma das bandas mais importantes de João Pessoa, Paraíba. Possuem 3 CDs oficiais, além de participarem de várias coletâneas (Ensaio de Música Rock; Farinha, Hardcore e Rapadura; HC Scene # 4; El Toro; Noise for Death #4). O CD Saco de Gilete foi lançado ano passado pelo selo Microfonia. Conversei por e-mail com o guitarrista Adriano Stevenson. 
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AFz.: Como foi o inicio da banda? Como era o cenário de música punk em João Pessoa? Existiam muitas bandas, locais para shows, zines?

Adriano: Estamos falando do ano de 1990, tudo era difícil, desde instrumentos até local para ensaio, não existiam estúdios para ensaio, não existiam shows. Quando existia, todos os bairros compareciam ao evento, por conta da carência, que era grande. Todos se conheciam, e bandas foram surgindo a partir de então, consequentemente, pessoas começaram a escrever sobre o mesmo, surgindo assim os primeiros zines, muitos deles falavam mais da cena metal, mas estavam lá registrando tudo.




AFz.: Como você definiria a proposta da Rotten Flies? Quais são as influências e as mensagens que pretendem passar nas letras?

Adriano: A Rotten Flies faz Hardcore, sem sufixo e sem prefixo, alguns intitulam old school, definitivamente a gente toca música punk. As influências são desde RDP, Olho Seco, Discarga Violenta, Devastação, mas o caldeirão é muito grande, tem muito mais coisa. A maior influencia é o cotidiano, narramos o dia a dia, as letras entregam a insatisfação que a gente tem, e nada melhor que colocar essa fúria pra fora como catarse.




AFz.: Como surgiu a oportunidade de participarem da coletânea "El Toro” e "Noise For Deaf IV"?

Adriano: Foi naquele esquema: "Estamos fazendo uma coletânea, se sua banda quer participar, mande material". Mandamos e deu certo! Coletânea é um ótimo instrumento para divulgar seu trabalho. O Aviso Final tem uma coletânea muito boa e acho que seria bem vinda uma nova.






AFz: Depois de produzirem várias demos e gravar o CD Amargo, porque demoraram alguns anos para editar oficialmente este CD pelo selo Microfonia?

Adriano: Eitcha! É o seguinte, a gente gravou o Amargo em 2002, e tentamos com uma porrada de selo, mas nenhum chegou junto, falei pra banda, bota esse disco na gaveta, a gente não vai disponibilizar "na rede" porque a gente queria o material físico. Ficou na gaveta por 10 anos, em 2012 comecei o selo (Microfonia) com a jornalista Olga Costa, tiramos o Amargo da gaveta e lançamos. Enfim... amargamos 10 anos com esse CD, mas lancei esse FDP.




AFz.: Rota de Colisão teve uma excelente divulgação. Como aconteceu a parceria com o selo Sub Folk?

Adriano: Foi numa hora oportuna, o Amargo estava na gaveta e ja estávamos fazendo musicas novas. Então a Sub Folk veio com a proposta pra lançarmos o Rota de Colisão e deu certo.






AFz.: Recentemente passaram por mudança na formação. O quanto isto interferiu na sonoridade e nas composições da banda?

Adriano: Francisquinho era o cara que colava em todos os shows da banda, sabia as letras de cor e salteado, só que a pegada dele e bem mais agressiva, tem momentos no ensaio que eu digo: "Manera porra, tu vai morrer desse jeito!”. Parece que cada ensaio, vai ser o ultimo da vida dele... imagine no show?  Ele mesmo deu uma instigada mais pro HC europeu e a gente ta com o sorriso de canto a canto da boca.








AFz.: Como esta o processo de divulgaçao do novo trabalho, Saco de Gilete. Muitos shows? Como esta sendo a receptividade deste CD? Quais as perspectivas?

Adriano: Renato, desde que a gente começou a banda, nunca tínhamos tocado tanto. Saco de Gilete e um divisor de águas, em todos os sentidos, de formação, de tocada, de publico. A receptividade foi excelente, ate por conta da mudança de formação, a banda ganhou gás. Pode-se dizer que a gente e uma nova velha banda, a gente agüenta mais uns 30 anos... Se Francisquinho maneirar (risos).




2 comentários:

Escrivinhaturas do nada que sou eu disse...

Taí uma coisa que sempre falo pra galera, a mudança de vocalista fez toda diferença. Conheci a Rotten Flies em 95, curtia, mas não curtia tanto quanto agora. Com Francisquinho ficou mais visceral, mais vivo, e foi isso que me fez olhar a banda mais de perto. Vida longa a vocês!

Unknown disse...

Á ROTTEN é uma banda que faz um som cru...eu gosto disso, dessa porrada sonora que estouram nossos tímpanos. Como disse a Eli Oliveira... vida longa!

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